sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Arruda neles!


2009 foi o ano de rever conceitos. Com uma pandemia em potencial, o álcool em gel e o tamiflu bombaram. No fim era só mais uma marolinha, mas para uma coisa serviu: as pessoas de fato ficaram mais higiênicas – Afinal, que dinheiro na cueca, que nada! O negócio agora é meia, paletó e panetone. Sim, o ano se encerra com chave de ouro: um natal mais feliz para as crianças do Distrito Federal, graças ao bondoso governador Arruda, aquele com nome de erva protetora, que tomou um chá de sumiço depois do escândalo. Deve estar muito ocupado distribuindo os tais panetones. Aliás, o dinheiro da saúde e da educação podem ter sido desviados para destinos inusitados, mas panetone não vai faltar. Afinal, é natal, e um ano agitado como 2009 não poderia acabar simplesmente em pizza.
Ah, nova tendência: o impeachment é a sensação do momento, e voltou com tudo. Para quem estava com saudade do Fora Collor, esse ano relembramos os tempos de caras-pintadas e gritamos Fora Sarney, depois fora Arruda e (por que não?), fora também Mahmoud Ahmadinejad. É, aquele presidente do Irã, “companheiro” de Lula, que nega o Holocausto, hostiliza homossexuais, e veio visitar o Brasil. Mas com um “Fora” abafando o outro, acaba todo mundo ficando por lá mesmo. Nem protesto, e nem mesmo eleições tiram os sanguessugas do poder. É oposição, situação, deputado que compra castelo, relator que se lixa pra opinião pública. Tem para todo mundo e o que parece estar por fora mesmo é a ética e respeito ao dinheiro público.
E falando em nostalgia, quem estava com saudade do Mensalão do PT, relembrou os velhos tempos com o Mensalinho do Dem. Podem até ser farinha de sacos diferentes, mas como diz o Presidente, “Aqui ninguém é freira nem santo”. E o apagão do FHC, lembra? Esse ano matamos a saudade. Não, não estava falando de Itaipu. Muito mais coisas entraram em pane em 2009. O Senado Federal, o STF o Enem e o Dem. Ah, disso eu já falei, não é? Perdoem-me se pareço um pouco repetitiva. É que parando para pensar agora, talvez 2009 não tenha sido um ano tão inovador. Na verdade foi um ano de “dejavous” - um verdadeiro museu de novidades. A não ser pelo fato de pela primeira vez o Prêmio Nobel da Paz ser atribuído ao mesmo homem que enviou, em seguida, tropas para o Afeganistão.
Mas para esquecer um pouco de todos esses paradoxos, com todo o verão, chegam as chuvas, que trazem prejuízo e mortes por onde passam. Aí a culpa já é de São Pedro, e não de governantes que durante o ano se preocuparam mais com leis antifumo do que com bueiros e medidas preventivas contra os desastres naturais - que serão cada vez mais frequentes. E falando em enchentes, gripe suína e apocalipse, lá vão os figurões, senhores da guerra e do capitalismo selvagem discutir em Copenhaguen as soluções pra salvar o Planeta.
E se a solução for alugar o Brasil, que aluguem. Fiquem com a Amazônia, ela não serve para nada mesmo. Aha-uhu, o Pré-Sal é nosso! E o “Hexa” também. 2009 foi o ano para quem estava com saudade de 1992. Aquele tempo sim era bom. Naquele ano tinha inflação, mas também tinha Mengão Campeão! E como se não bastasse, em 2009 levamos a melhor como sede das Olimpíadas e da Copa. Mas com os prós, vêm os contras, e o mau olhado foi tamanho, que uma semana depois da eleição do Rio como sede das Olimpíadas, um helicóptero caiu na cidade maravilhosa. Prato cheio pra torcida do “eu avisei”. Teve até ator norte-americano invejoso que atribuiu a vitória às nossas strippers e ao pó. Ora, que injustiça Robbin Williams! No seu país ambos têm mais qualidade do que os daqui. Mas, por via das dúvidas, melhor seguir a receitinha da vovó contra a inveja e mau olhado: Arruda neles!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Brasil, um País de Todos – Que sabem ler

Dia 15 de novembro, dia nacional da alfabetização. E será que o País que já encontrou petróleo na camada pré-sal, que é o país-moda dos eventos esportivos e até já mandou um homem pro espaço tem algo para comemorar?
As estatísticas dizem que não. Desde o início do governo Lula as taxas de analfabetismo pararam de cair. Apenas 1% entre 2002 e 2005, passando de 11,8% para 10,9%. Queda essa que pode ser associada à demografia: mortalidade de idosos analfabetos, por exemplo, o que não indica que adultos ou crianças foram alfabetizados. São dados insignificantes, principalmente diante da promessa do então ministro da Educação Tarso Genro em 2004, que disse que o analfabetismo seria erradicado em seis anos, quando apresentou o programa Brasil Alfabetizado. Seis anos se passaram, e o retrato do Brasil de hoje é o mesmo de alguns anos atrás: analfabeto.
Lula, como sempre, colocou a culpa nas gestões anteriores. Segundo ele próprio, os governantes que o antecederam eram letrados, portanto cabia a eles fazer algo pela educação desse País. Até que faz sentido, já que de 1992 a 2002 o analfabetismo era combatido de forma mais eficaz do que atualmente. É triste ter que admitir que não se pode esperar muito de um Presidente que tem orgulho em dizer que nunca leu um livro.
Sim, pasmem. Diversas vezes Lula manifestou sua repugnância pela leitura. O presidente até já declarou que “ler é pior do que fazer exercício em esteira”. Palavras literais do homem que, não fosse por motivos óbvios, poderíamos concluir que gosta muito de esporte.
Vale bater na velha tecla de que um país só se faz com Educação, e que de nada adianta saciar somente a fome das pessoas. Enquanto permanecerem na ignorância não poderão ser incluídas na sociedade e no mercado de trabalho. Ler e escrever (e não apenas o nome) é um direito de todos. Num país em que para ser gari é preciso ter nível médio, o analfabeto não tem opção, além de viver abaixo da linha da pobreza, ou no crime.
E sem falar no analfabetismo funcional. Aquele que acomete o cidadão que até sabe votar, assinar, mas não sabe ler nas entrelinhas do suposto Brasil, um País de todos. Não, não é de todos, nem pra todos. É pras elites. Sim, governado por gente que veio do povo, que não estudou – mas se orgulha disso, e usa sua falta de instrução como álibi para deixar os brasileiros se afogarem numa verdadeira sopa de letrinhas.
Só se tira um país do subdesenvolvimento através da educação. De nada adianta se orgulhar de emprestar dinheiro ao FMI, se gabar da fortuna desenterrada em forma de petróleo e falar em Progresso antes de estabelecer a Ordem. Nosso Presidente talvez precise ser lembrado que antes do seu xodó, Pré-sal, existe o pré-escolar. E essa sim, a Educação, é uma fonte inesgotável de crescimento humano e econômico. E que só através dela se faz um verdadeiro País de todos.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Olimpíadas 2016: Yes, we créu (?)

E ao povo, pão e circo. Funcionou com o bolsa esmola, que elevou a popularidade de Lula a níveis beirando patética unanimidade. Retrato de um país que não tem o que comer, nem a cultura do trabalho e da priorização do estudo. Agora Lula dá sua tacada final aos 43 do segundo tempo, de olho na sucessão: apóia a candidatura do Rio de Janeiro como cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2016 – e vence.

Mostramos ao mundo como somos campeões mundiais do “oba-oba” (se houver medalha nessa modalidade, o ouro é nosso). Um evento desse porte deveria demandar uma cidade estruturada, e não o caos que se tornou o Rio de Janeiro. Um verdadeiro cenário de constante guerra entre facções, polícia e ladrão, polícia e polícia e ladrão e ladrão. Tudo isso chefiado e consentido por quem deveria prezar pelo cidadão que está preso em casa enquanto o crime rola solto do lado de fora.

Mas para isso basta fazer um acordo. O clássico: fazer vista grossa por alguns meses para o tráfico (que é quem de fato manda e desmanda, dá toque de recolher e sentença de morte) dar uma trégua enquanto o Rio de Janeiro brinca de Cidade Maravilhosa. E o povo ainda aplaude, sai de verde e amarelo e repete o coro de que o evento trará benefícios para a cidade e para o País. Já não bastasse a Copa de 2014.

E lá se vão cinco bilhões de reais. Dinheiro esse que se investido em educação, por exemplo, traria resultados que colheríamos por muitas gerações: um país de gente educada, culta e com senso crítico. Mas será mesmo que isso é conveniente? Dá ao povo o pão e circo mesmo, que funcionou até agora. É melhor pra nós, e eles aplaudem e agradecem. “Quero o Lula mais quatro anos!” Pra que investir no esporte através de iniciativas, quadras nas escolas e capacitação de professores? É melhor construir estádios monumentais, que não vão beneficiar a criança da periferia, mas vão impressionar muito mais.

Não adianta fazer barba cabelo e bigode do Rio, nem do Brasil. Enquanto não mudarmos a estrutura não estaremos prontos para receber eventos do porte da Copa do Mundo de Futebol ou das Olimpíadas. Mas mesmo assim o Abacaxi é nosso, e vamos descascar à lá “jeitinho brasileiro”.

Yes, we can! – discursou o então candidato à presidência dos Estados Unidos, Barack Obama. Yes, we créu– adaptou um brasileiro espirituoso, que foi entoado por uma modesta multidão que enxerga o óbvio: somos o país do créu achando que estamos podendo...

publicado na Revista Glass de Outubro

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Pra não dizer que não sei falar de amor...

Eu nasci vacinada. Anti-cafajeste, anti-pieguice-melodramática e assim por diante. Nunca me permiti me iludir, me decepcionar. É meio que como aprender com os erros dos outros.

Mas aí um dia eu ouvi uma canção no rádio que dizia para eu me permitir. Ai eu me dei o direito de cometer meus próprios erros e chorar minhas próprias dores-de-corno. E não me arrependi, nunca fui disso. Sou impulsiva e compulsiva.

Eu experimentei aquela coisa que olhando de fora não faz sentido nenhum. Amei como nunca pensei que fosse amar, e me despi do meu jeito frigida de ser. Me tornei só mais uma apaixonada, sem nada de especial.

Hoje posso falar de amor com propriedade, apesar de não gostar de mostrar muito esse meu lado. Outro dia alguém me perguntou por que nunca escrevo sobre isso, se eu sou amor da cabeça aos pés. Mas eu digo que também todo esse amor é coberto por uma armadura da cabeça aos pés, que tirei por algum tempo, mas que agora está no lugar que lhe é devido.

Sempre repeli declarações calorosas de afeto e aproximações muito efusivas. Sempre guardei meus "eu te amo" para quando eles realmente fizessem sentido, e quando eu finalmente disse, com toda a força do meu amor que estava aqui guardado, soou falso e obvio como todos os outros que foram ditos antes dele.

Eu me apaixonei, com direito a todas aquelas noites insones, com todas as loucuras de amor que uma menina boba pode cometer.

Como eu disse, arrependimento não faz parte de mim. O amor, ao contrário, é intrínseco, apesar de ter sido apresentada a ele uma vez e não pretender reencontrá-lo. Mas agora prefiro deixar o amor e tudo o que se pode discorrer sobre ele para quem tem esse dom. O meu ainda não sei qual é, mas com o amor eu me atrapalhei e nem sei porque estou me atrevendo a cutucar essa ferida. Meu dom certamente também não é aprender. Não aprendo a perder, ou esquecer. Talvez meu dom seja me contradizer.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Sapiens Sapiens Sapiens...

Os gênios, os filósofos e os revolucionários jamais imaginariam um século em que uma simples pessoa que pensa seria confundida eles.

Chegamos a um ponto em que seres humanos são programados para executar suas ações, acatar ordens e seguir em frente - tudo isso com cabresto, e sem olhar para o lado. Pensar não é mais pre-requisito básico. É luxo, é raro, é incoveniente.

Poetas são entitulados filósofos pelo simples fato de refletir. Mas não fomos classificados como homo sapiens? Não sabemos que sabemos? Todos nós, sem exceção, mesmo mergulhados em nossa mediocridade e pequenês, não refletimos? Filosofia é outra coisa, meu caro. Filosofia é para os grandes. É para uma espécie em extinção: o homo sapiens sapiens sapiens...

O jornalismo é feito fora de seu propósito: sem intelecto. O diploma é mais importante que o talento, a veia jornalística. As coisas são vistas por olhos sem alma, os fatos contados bor bocas sem escrúpulos. Está tudo se prostituindo, se vulgarizando.

Somos uma geração que recebeu tudo de bandeja: dogmas, teorias, ciências, organização social. Não contestamos, não lutamos. Está tudo mastigado, só queremos engolir e depois usar citações de grandes pensadores para nos fantasiar de pseudo-intelecutais, vomitando aquilo que é fruto de inspiração e transpiração, com o perdão do clichê.

É um caso a se pensar...

domingo, 17 de maio de 2009

Direito de Silêncio...

Esse direito deveria ser lei.

Quem pediu, por exemplo, a opinião de nosso presidente Lula sobre o escândalo das passagens aéreas?

Mas ele, é claro, veio à público declarar que se trata de hipocrisia, que não há problema nenhum de os parlamentares levarem suas mulheres para Brasilia.

mas enfim, isso é só mais uma marolinha. Logo passa...

Agora quem não se utilizou de seu "direito de permanecer em silêncio" foi Sérgio Moraes. Sim, aquele que está se lixando pra a opinião pública.

"As matérias são editadas para atirar nós tudo no fogo", declarou.

Nessas situações, costuma dizer minha mãe que ele perdeu uma boa chance de ficar calado. Assim ele vai mesmo atirar a liberdade (e integridade) da Imprensa, a tolerância 1000 dos eleitores e tudo o mais para o qual eu estou me lixando - nós tudo no fogo.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Pandemia de Sensacionalismo

Upsidown - Tudo de Cabeça pra baixo.

A Classe Média é submissa. Quase extinta. Paga duas vezes por saúde, educação e segurança. Paga as bolsas-misérias (que beneficia até mortos e políticos) e os trocos dos figurões.

Há aqui um inversão de valores... Há controvérsias...

O presidente que era bispo se tornou o "pai do Paraguai". E nós ainda nos vemos programados à banalidade. É tudo sempre normal.

Unificação da Língua Portuguesa. O que era para simplificar a vida das pessoas, além de uma perda irreparável de identidade só acarreta mais problemas para a já tão saturada Educação do país, que já está na UTI à tempos...

E o que dizer da quebra de decoro no STF...? Que patifaria. Vossa Excelência já ouviu falar em vergonha alheia? Pois é.

Agora a mais nova de todas: o Governo Federal acaba de liberar uma verba milionária para "combater" uma doença totalmente virtual no Brasil. Sim, a Gripe Suína, ou A (H1N1), como preferir. Aquela, que alarmou todo mundo, e agora se sabe que grande parte dos casos não passaram de suspeitas, e a taxa de mortalidade é baixissima. Por que não investir em uma doença real no Brasil como a dengue, por exemplo, doença essa que sempre causa epidemia e não deveria matar. O que mata, na verdade, é o sistema de saúde público desse país. Sem atendimento as pessoas morrem de dengue, de gripe, de descrença.
O Governo não deveria ser facilmente influenciável e impressionável por uma Imprensa tão sensacionalista. A Gripe Suína foi vendida como prato cheio pelo tom apocalíptico de uma pandemia em potencial. Mas eu me esqueci. O Governo também não deveria ser uma mamadeira para a máquina pública, um antro de corrupção e afins, mas nem tudo é como deveria ser.
Está tudo mesmo de cabeça pra baixo.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Até tu, Gabeira?

O Deputado mais verde de Brasília dá sua explicação sobre o envolvimento com o escândalo das passagens aéreas no Parlamento.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."

A frase é de José Saramago, autor de Ensaio sobre a Cegueira, romance que dá nome e enredo ao filme de direção de Fernando Meirelles

Objeto de duras críticas na abertura do Festival de Cannes, o filme mais esperado do ano, “Ensaio sobre a Cegueira” (Brasil/Canadá/Japão – 2008 – Drama), foi sucesso de bilheteria e tão polêmico quanto comercial. O longa, baseado na obra homônima do escritor português José Saramago, e dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, chocou pelas cenas retratadas com frieza (e fidelidade à obra) em alguns momentos.
É importante notar, porém, que como foi dito é questão de fidelidade. Filmes baseados em livros sempre ficam por decepcionar o leitor e agradar platéias mais variadas. Ensaio sobre a Cegueira, ao contrário, foi feito para quem leu o livro. Retratada com riqueza de detalhes, a obra de Saramago se quer abria espaço para divagações.
A história, que fala de uma misteriosa cegueira branca e contagiosa que começa a infectar um por um dos moradores de uma cidade – não identificada no filme, porém as locações foram em São Paulo – a partir do primeiro cego, passando por todos que tem contato direto ou indireto com ele. A doença contamina o oftalmologista, seus pacientes e assim sucessivamente, até que, ao atingir um número preocupante de infectados, o governo decide isolar os cegos num sanatório desativado. Curiosamente (e tão inexplicavelmente como a cegueira em si) a mulher do médico não é contaminada, e passa a desfrutar dos privilégios e desventuras de ser a única a ver.
O desenrolar do filme retrata a degradação da sociedade e do ser humano em si, a tênue linha que divide a dignidade e o instinto mais primitivo de sobrevivência. Uma dura crítica à sociedade, a história mostra que, afinal, não somos tão bons assim, nos convidando a olhar para nós mesmos e para o mundo, quando na verdade a pior cegueira é a do egoísmo. Deixar de ver, então, pode ser a única forma de enxergar de fato a crueldade do mundo.
O diretor realizou seu trabalho com maestria ao montar o cenário de uma cidade que representava simplesmente uma metrópole e dar vida a personagens sem nome. Aliás, esse é outro fator que levou críticos equivocados a julgar o filme. O recurso, usado por Saramago no romance, é utilizado para mostrar que na situação de reestruturação de uma sociedade, nomes, tais como valores morais, se tornam desnecessários – ou pelo menos reconsideráveis.