quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Admirável - e inevitável - mundo novo

Mudanças. Ultimamente ando respirando mudanças. Ciclicamente nossas vidas se vêem diante de encruzilhadas e silenciosas – e dolorosas – revoluções. Nesse momento em que me mudo de casa, mudo de estudante para jornalista, de sonhadora para realista e mudo também de ideia, vejo meu país dando boas vindas ao ano de 2011, que trará consigo, pela primeira vez, uma presidente mulher.

Das mudanças, a menor. Dilma Roussef significa continuidade – ou pelo menos é nisso que os mais de 55 milhões de brasileiros se apegaram ao depositar seu voto em Dilma. Mas abaixada a poeira das eleições onde tudo eram dúvidas, a certeza de finalmente conhecer a cara do Brasil dos próximos 4 anos nos mostra que Dilma é muito mais do que mera continuidade: é mudança – e, esperamos, para melhor.

Quem não mudou muito foi o Enem. Um ano depois do escândalo das provas roubadas, o exame volta a perder credibilidade e pode ser até anulado, depois da impressão errada de algumas provas que prejudicou os alunos. E não é só o Enem que anda inspirando desconfiança e insegurança: o mesmo vem acontecendo com as empresas das Organizações Silvio Santos, que após fraude no Banco Panamericano, colocou todas as empresas do homem do Baú na corda-bamba – inclusive o SBT.

E falando em fraude, quem surpreendeu a todos com a velocidade de transformação foi Tiririca: de palhaço para deputado eleito com mais votos do Brasil e de suspeito de falsificar declaração de escolaridade a comprovadamente alfabetizado, aparentemente poderá tomar posse e finalmente nos contar o que, afinal, faz um deputado.

Se pior do que está fica não sabemos, mas a verdade é que ano que vem vai ser tudo novo: os senhores senadores, os senhores deputados e também os senhores ministros. Se até outro dia tudo era uma incógnita sobre os novos rumos do País, agora tudo não passa de especulação, de reticências. E expectativa – hora de formular as resoluções de ano novo para aproveitar o clima de mudança. Hora de deixar o saudosismo de lado e abrir os braços para o novo.

Dilma Roussef não é mais uma candidata de 55 milhões de eleitores, é a presidenta de 190 milhões de brasileiros. E que seja feita a vontade de Deus, que fala por meio da voz do povo. É a democracia, é a maioria. Enquanto muitos clamavam pelo terceiro turno de Lula (o filho do Brasil e novo pai dos pobres), a mudança era iminente – e agora é real. O que nos resta, enquanto agente passivos de algumas mudanças, é estufar o peito e olhar não só para as dores, mas também para as delícias das pequenas e das grandes mudanças: Terra nova à vista!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Para baixo, e avante!

Serra caiu. Tentando conquistar os eleitores de Lula, herança natural de Dilma Roussef, Serra perdeu os de FHC, que não viram nele o reconhecimento por algumas ondas que começaram no governo do PSDB, e nas quais, mais tarde, Lula surfou triunfal. Se Serra não falar isso, quem vai falar?

A Casa Civil também caiu. Embaixo dela, ficaram os escombros da reputação do que deveria servir como o braço direito do Governo em nome dos interesses públicos e tem servido a interesses um tanto quanto particulares, tendo se tornado um verdadeiro antro de nepotismo e tráfico de influência.

Mas a onda de escândalos que culminou na demissão de Erenice Guerra chegou até a candidatura de Dilma em forma de marolinha. A ex-ministra pelo visto aprendeu muito bem com seu padrinho Lula a surfar – no melhor estilo “eu não sei de nada, vamos investigar e punir”. Dilma, seguindo o caminho contrário dessa tendência de cair, só vem subindo rumo a uma façanha que nem seu popular antecessor conseguiu: vitória no primeiro turno.

A verdade é que o povo não quer saber de Casa Civil nenhuma. Quer saber é de “Minha Casa, Minha Vida”. Não querem saber se quem inventou o Bolsa Escola foi FHC, e Lula só mudou o nome dos bois. O povo quer é receber seu pão – e de quebra, o circo. E foi pelas mãos de Lula que o pão veio, não importa quem o fermentou.

E falando em circo, quem também caiu foi o Morumbi, tendo se tornado inapto para sediar jogos da Copa do Mundo. Mas aí vem Lula, com seu jeitinho brasileiro e traz a solução: construir um estádio para o Corinthians. Matar dois coelhos em uma jogada de mestre só, angariando assim votos do seu eleitorado mais resistente: São Paulo. Enfim, entendam como quiserem. A verdade é que quem um dia chamou esse homem de burro, deve baixar a orelha agora. Lula não deixou a peteca cair e vai fazer sua sucessora, contrariando todas as expectativas.

Por outro lado, o que agora está em voga é aparecer na TV se apresentando como responsável pelo Ficha Limpa. A velha história de mostrar o pau depois que a cobra já está morta. Um projeto que nasceu do clamor popular e chegou até onde chegou por méritos da população e da imprensa, e ao qual os senhores deputados só acrescentaram benefícios em causa própria, e que agora estampam santinhos que entopem nossos bueiros com o nome do projeto. Para as próximas eleições, inclusive, meu projeto é pelas ruas limpas – não só as ruas como as casas, inclusive a Civil.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

“E o voto vai para...”

Desliguem a TV, economizem os programas de humor e os sites de piadas. As campanhas eleitorais estão a todo vapor com o mais peculiar (e negro) do humor. Afinal, é da cara do eleitor que eles dão risada, e como se não bastasse os políticos serem a própria piada, agora querem calar a voz dos humoristas. Estamos andando no caminho contrário e regredindo, sendo censurados e lembrados sobre quem pode rir de quem. A graça está nas massas escolhendo seus votos baseada em mentiras deslavadas e números distorcidos.

Por trás dos debates estão marketeiros – muito bem pagos – que fazem jogos de frases de efeito e manipulação, que usam os rostos maquiados e sorridentes que nós vemos como fantoches para dizer o que os eleitores querem ouvir. Mas não se preocupe: se eleitos, eles continuarão meros fantoches e porta-vozes de um emaranhado de coronelismos e corrupção (de dinheiro e de caráter).

Partidos já não existem mais. Nem democracia. Ou dedicar a um candidato 10 minutos no horário na televisão e 30 segundos para outro é democrático? O eleitor tem a mesma oportunidade de conhecer cada candidato para se decidir pelo voto? E as pesquisas? Sempre me pergunto quem influencia quem – as pesquisas são reflexo da vontade da população ou a vontade da população é reflexo das pesquisas?

Sem falar que só aparece quem tem dinheiro. E só tem dinheiro quem tem rabo preso com empresários e figurões acostumados a mamar nas tetas do generoso Governo, só não tão generoso com seus contribuintes e seus marginais, que se contentam com uma bolsa-miséria para calar a fome e a boca, e garantir o voto nas próximas eleições.

Mas se você estiver revoltado e insatisfeito com o cenário político, econômico e social atual, ligue a TV ou o rádio, e veja um Brasil com crianças sorridentes, candidatos nobres e engajados e a solução para todos seus problemas. São todos tão bonzinhos e simpáticos que dá vontade em votar em todos! Pena que não dá..

E se estiver cansado dos figurões, vote nos “figuras”. Aqueles que eleição após eleição, surgem com seus jingles cômicos e slogans apelativos. Eles só querem chamar a atenção e, de quebra, conquistar votos de protesto. Pelo menos eles fazem um humor mais escachado, despretensioso e honesto – eles não fingem que estão falando sério, não fazem de conta que se importam com você, e não apenas com seu voto. E, falando nele, não tenha receio de usá-lo para o mal. Essa é ”minha” dica: pior do que está, não fica!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

CALA BOCA UFANISMO

As candidaturas foram oficializadas, dando a largada à corrida presidencial – oficialmente, claro. Mas, como não poderia deixar de ser, o assunto é Copa do Mundo. Afinal, de quatro em quatro anos, palmeirenses, corinthianos, cruzeirenses, flamenguistas, ricos, pobres, e apaixonados ou não pelo futebol vestem a mesma camisa: a do patriotismo. De quatro em quatro anos dá orgulho ser brasileiro, o país para. Jogo do Brasil é feriado, é carnaval.

Mas enquanto não chegamos a fase “mata-mata”, as atenções ficam em torno da roupa de Dunga, das “vuvuzelas”, da Jabulani, de quem ficou fora da Copa... E de Galvão Bueno. Sim! O simpático locutor esportivo brasileiro tão popular quanto polêmico. Pela primeira vez, uma Copa do Mundo é coberta pelo Twitter, onde o famoso “CALA BOCA GALVÃO!” segue inabalável nos “Trending Topics” desde o show de abertura do mundial. Ou seja, é o assunto mais comentado do Twitter.

Deu o que falar. O mundo quis saber o que afinal era a expressão tão twittada pelos brasileiros. Muitas teorias surgiram: novo single da Lady Gaga? Campanha para salvar os galvões, pássaros em extinção no Brasil? A proporção que o viral ganhou na web foi tamanha que até os noticiários internacionais publicaram matérias a respeito. Sem falar do deleite dos sites de humor, onde o assunto deu mais pano para manga do que todos poderiam imaginar.

O fato é que, enquanto alguns atribuem essa visibilidade ao “poder do Twitter”, eu insisto em dizer que quem tem poder são as massas, que quando querem se fazem ser ouvidas e atendidas. Aconteceu com o projeto de lei Ficha Limpa, que nasceu no clamor popular e ganhou os plenários para, enfim, ser votada, aprovada, sancionada e, claro, devidamente modificada. Bateu recordes de agilidade e já valerá para as eleições desse ano. É a prova de que, quando mobilizadas para o bem, a população, tal qual a imprensa, o quarto poder, possuem inquestionável poder.

Por que não usar, então, as ferramentas que possuímos nas mãos para causas mais nobres, ou no mínimo menos perdidas? O Galvão Bueno não vai calar a boca. O Faustão, o Gugu, o Sílvio Santos, e tantos outros não calaram até hoje. Esse tipo de polêmica só fomenta a popularidade dessas figuras controversas.

E falando em eleições, Twitter e Copa do Mundo, há um lugar comum em que esses três elementos se encontram: nas páginas dos presidenciáveis na ferramenta dos 140 caracteres. Lá, as discussões esportivas invadem também a esfera política, com os candidatos tentando criar empatia com os torcedores. E, enquanto Serra se aproveita do slogan ambíguo “O Brasil pode mais”, Lula alega, categoricamente, que Dilma irá preencher um vazio deixado por ele nas urnas nessas eleições.

O Brasil pode mais. A frase é familiar, e causa na população a sensação de poder. E o povo realmente pode mais. Pode deixar de lado o ufanismo – aquele sentimento de auto-vangloriação responsável pelo famoso (e traiçoeiro) salto alto – característico da época de Copa e dar lugar ao genuíno patriotismo, aquele que nos dá forças para limpar as fichas de nossos candidatos e que não vai embora com a primeira derrota da Seleção.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Entre pérolas e ostracismo: Quem vence?

Essa é a época do ano em que o tempo esfria mas todo o resto esquenta: A Copa do Mundo vai se aproximando e os assuntos em mesas de boteco têm cada vez mais pautas como a convocação do Dunga, os meninos da vila que ficaram de fora, o Ganso e a separação de Pato, além das greves que entram na moda para pegar carona no ano eleitoral. A disputa política vai ficando mais, digamos, real.

Com Ciro Gomes fora do páreo, os presidenciáveis Dilma e Serra vão se enrolando nos cabelos das próprias pernas – prometendo até dançar o “Rebolation” - em busca de pontos nas pesquisas de intenção de voto, visto que a última apontou empate técnico entre os dois. E nessa hora podemos economizar programas humorísticos: a política por si só é um show à parte!

Dilma parece estar seguindo o exemplo de Lula, seu padrinho político, e soltando pérolas no melhor estilo “ler é pior do que fazer exercício em esteira”. A frase, do Presidente Lula, deve ter inspirado sua candidata à sucessão, que se atrapalhou toda quando questionada sobre sua literatura preferida e não soube citar sequer o título de um livro. Parece que Dilma está lidando melhor com os 140 caracteres de seu recém criado twitter.

Mas não sejamos injustos! A ex ministra do governo Lula demonstrou muita cultura ao citar a obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos (ela falou do filme, não do livro homônimo). Em entrevista, Dilma disse que no filme está retratada a miséria e “a saída do povo do nordeste para o Brasil”. Isso mesmo! Saída do nordeste para o Brasil. Ou a candidata faltou nas aulas de geografia ou é adepta de um movimento separatista da região do resto do país. Resta saber qual dos dois ela pretende governar: o nordeste, ou o Brasil.

Enquanto isso Serra segue inabalável (ou nem tanto assim) com seu jeito “quadradão”, mergulhado em seu, de certa forma, ostracismo. Isso porque é órfão até de padrinho político. Enquanto Lula sobe nos palanques ao lado de Dilma para tentar passar seu carisma por osmose (aproveitando para ensinar algumas de suas pérolas), FHC faz que não é com ele quando o assunto é Serra. Mas o tucano tem dado seus próprios passos para sair do tal ostracismo: Recentemente até estampou a capa de certa revista semanal “imparcial” com um sorriso ingênuo e olhar cativante, que por mera coincidência muito lembra a capa da Revista Time com o carismático Barack Obama – a mesma mãozinha no rosto. Serra Paz e Amor... Acho que já vi esse filme! O marqueteiro Duda Mendonça, que elegeu Lula com esse mesmo slogan, deveria cobrar seus créditos.

Mas o fato é que Serra é carreirista. Vive de galho em galho, sem sequer concluir seus mandatos. Tudo bem que na mesma revista em que Serra estampou seu lindo rosto benevolente, a manchete era a seguinte frase “Me preparei a vida toda para ser presidente”. Talvez então, quem sabe, se ganhar as eleições conclua ao menos esse mandato. Afinal, após chegar ao lugar que ele sempre quis, o que mais ele pode querer? Talvez ser presidente do nordeste...

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Teorias - e práticas - conspiratórias

Em face dos últimos acontecimentos, podemos olhar para os desastres naturais com vários olhos diferentes: os olhos religiosos, os olhos científicos e os olhos céticos. Os olhos religiosos vêem nas tragédias o Apocalipse se cumprindo, e com ele, o tempo do fim. Os cientistas nada mais vêem do que fenômenos naturais do planeta, agravados pela ação do homem e tentam prever, remediar, ou ao menos paliar os efeitos catastróficos da fúria na natureza.

Já os olhos céticos analisam cada situação separadamente, de forma pessimista ou otimista, mas, segundo eles, realista. E aí surgem as teorias... Caos? Conspiração? Big Bang? – ao contrário. Estaremos nós passando pelo processo inverso do início de tudo, caminhando então para o fim? Nessas horas é que eu digo: Todos os olhos vêem a mesma coisa, só dão nomes diferentes para isso. Estamos próximos do fim dos tempos, ou do tempo do fim. O nome dos bois não altera a gravidade dos fatos.

E falando em teoria da conspiração, estamos de novo em tempos de gripe suína, nova gripe, H1N1, enfim, mais uma vez o nome não faz diferença. O fato é que há quem diga que os mesmos que agora fabricam a vacina contra o vírus, são os mesmos que fabricaram o próprio vírus. Interesses comerciais, manipulação global... Sempre há algo ou alguém por trás de tudo. Em todo o caso, vamos tomar a vacina, não é? Apesar de não acreditar no Sistema, ainda preferimos seguir a cartilha e dançar conforme a música.

Anular o voto? Não, não... Vamos escolher o mais limpinho entre o sujo e o mal lavado. Mas até lá temos muito com o que nos preocupar: Os campeonatos estaduais estão aí com todas as zebras e meninos das vilas. A Libertadores prometendo (e para completar o ciclo de acontecimentos bizarros, o que falta é o Corinthians levar essa), e sem falar em Copa do Mundo. Mas a taça mais disputada e polêmica do momento é, quem diria, a Taça das Bolinhas. E mais uma vez, entra em campo a Teoria da Conspiração: A CBF teria oportunamente se adiantado na decisão pelo São Paulo a fim de gerar polêmica e enfraquecer o grupo vencedor das eleições do Clube dos Treze.

A verdade é que o Universo conspira. A favor, ou contra, depende do ponto de vista. Assim como os bons ventos parecem estar soprando para o lado de Dilma Roussef que já está empatada nas pesquisas com José Serra, uma estranha nuvem negra sobrevoa o Projeto Ficha Limpa, que teima em não sair do papel antes das próximas eleições.

Você pode ser perguntar o porquê, mas algumas dessas perguntas jamais serão respondidas e permanecerão no imaginário e nos olhos que as vêem (sejam eles apocalípticos, otimistas, céticos ou técnicos). Outras estão aí, para quem quiser ver. Mas essas estamos cansados de saber, talvez só não estejamos preparados para tal – afinal, o que são terremotos, erupções vulcânicas, enchentes e deslizamentos de terra? Uma eleição onde apenas candidatos com Ficha Limpa fossem aptos a disputar seria de longe o acontecimento mais apocalíptico do século...

terça-feira, 30 de março de 2010

O que é isso, Companheiro?

É fato que em meio a tantas contradições e “mudanças de opinião”, aparentemente a única constante nos discursos de Lula são as metáforas: retrato de um Brasil cômico, e trágico. A última do Presidente foi a infeliz comparação de presos políticos de Cuba com presos comuns. “Eu penso que a greve de fome não pode ser usada como um pretexto de direitos humanos para libertar as pessoas. Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrassem em greve de fome e pedissem liberdade”. Ora, Lula... Se conhecesse os direitos humanos saberia que em sua Declaração Universal consta que governos como o de Cuba infringem os direitos humanos em vários pontos.

Lavar as mãos diante de pessoas que foram presas pelo simples fato de não concordar com um regime opressor é no mínimo estranho, ainda mais vindo de alguém com a biografia de Lula. Ao comparar um preso político com um preso comum, Lula enquadra a si próprio e sua candidata a sucessão, Dilma Rousseff, no mesmo saco que os presos cubanos por ele condenados. Isso porque, tanto o presidente como a ministra, foram presos políticos, e Dilma, inclusive, foi intimamente ligada à luta armada.

É fato também que o Lula “Paz e Amor” eleito pelo marketeiro Duda Mendonça, não é o mesmo que o Lula sindicalista, oposição enérgica e com ânsias de mudança. O Presidente se orgulha disso, e se utilizou da velho ditado chileno que diz que o homem que aos 20 anos não é socialista, não tem coração, e o que continua socialista aos 40, não tem cérebro. O Brasil elegeu o coração de Lula, mas levou de brinde seu cérebro cheio de metáforas e pérolas em forma de piadas de turco, acreditem, no Oriente Médio.

Só quero deixar claro que não sou anti-Lula. Sou apenas a favor da fidelidade não só partidária, como ideológica. Admirava Lula enquanto coerente com suas convicções, mesmo que radicais, e acho que as ideias devem mesmo passar por metamorfose e amadurecimento, porém não uma total desvirtuação. Recorro então a mais uma frase-chavão: Se quer conhecer um homem, dê a ele o poder. Eis então o novo presidente Lula: Capitalista, metafórico, inconveniente e contraditor de suas próprias origens e ideais... O que é isso, companheiro? "Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás!”

quinta-feira, 25 de março de 2010

Abaixo o Sensacionalismo!

O que vou escrever aqui é um desabafo. Pode até soar meio insensível, e na contra-mão de tudo que vem sendo dito, mas digo com a tranqüilidade de quem não quer ser compreendido, mas como qualquer um que escolhe ser um “comunicador”, quer se expressar.
Não tem como falar dessa semana sem falar do tão esperado julgamento do Casal Nardoni, dois anos depois do crime que chocou o País – julgamento esse que acontece agora, quando a opinião pública já condenou os dois antes mesmo da própria Justiça. Mas também não tem como não se perguntar porque o assassinato da menina Isabella ganhou tanta repercussão.
Todos os dias tantas Isabellas são torturadas, molestadas e mortas em todo o Brasil, mas apenas a menina branca e bonita, paulista de classe média estampa camisetas de milhares de protestantes, comovidos, que se declaram “um pouco órfãos de Isabella”.
A reconstituição do crime, a maquete de 30 mil reais, o circo em que se transformou o julgamento: Tudo isso é lamentável, ainda mais quando se fala de Brasil, um país com tantas injustiças, tanta desigualdade, tanta corrupção e tanto sensacionalismo.
A justiça tem sim que ser feita. Nada mais que justiça para Isabella e também para tantas outras crianças vítimas de maus tratos, vítimas de fome, de abandono. Me lembro do caso de um menino chamado Pedro, que aconteceu cerca de 1 mês após a morte de Isabella. O menino, de família pobre e suburbana, foi torturado durante meses pela mãe e pelo padrasto, o que acarretou sua morte. Mas quem se lembra, quem se importa?
Condenar Alexandre e Anna Jatobá não será o fim da violência contra crianças no País – será apenas o retrato do poder que a Imprensa, o Quarto Poder, pode exercer sobre o Judiciário, pressionando a eficácia de laudos, de perícias e a efetividade da Justiça em si.
Termino esse meu desabafo lembrando que a Imprensa elege presidentes, derruba presidentes, condena inocentes e absolve culpados. Por que não então a opinião pública e a Imprensa não estendem suas mãos generosas (e poderosas) também para essas Isabellas, Joãos Hélios, Pedros e tantas outras crianças que tem todos os dias suas infâncias roubadas e seus sorrisos calados? Bem, mas esse é só um desabafo de mais uma pessoa revoltada com o Sistema e com os caminhos que segue a profissão que ela escolheu.

quinta-feira, 18 de março de 2010

A Cafeteira

Essa semana assisti uma curiosa audiência sobre uma tal cafeteira. Eu era uma intrusa na sala de audiência, mera espectadora de mais um desses casos sem solução. Fiquei atenta, observando o desenrolar daquela história que nada mudaria minha vida. Um homem havia comprado uma cafeteira em um supermercado. Após constatar defeito, levou a tal cafeteira de volta na loja. Alguns dias depois, não conseguiu outro produto igual.
Versão daqui, versão de lá. A cafeteira havia custado ao consumidor 40 reais, mas o mesmo não aceitou um acordo proposto pelo supermercado de 200 reais. E enquanto isso a cafeteira gerava mais gastos ao sistema judiciário, que já é lento e sobrecarregado. As pessoas perderam afinal a capacidade de conversar? Precisam de uma juíza para lhes dizer o que fazer? Quantos outros casos permaneceriam sem solução, em filas interminaveis da "Justiça" brasileira?
Enquanto assistia à audiencia, pensei na morte do cartunista Glauco Villas Boas e seu filho: num primeiro momento, duas vítimas da violência urbana – a mesma que Glauco tanto criticava em seus quadrinhos. Mas foi mais do que isso, mais do que mera violência. Foram assassinados por um jovem desequilibrado, seguidor da igreja fundada por Glauco, adepta do chá de Santo Daime, o Ayahuasca.
A audiência corria, e me lembrei de uma frase que vi no Twitter à respeito da morte de Glauco: “A direita culpará as drogas, e a esquerda, a religião”. O certo é que, provavelmente, a combinação de ambas é que havia sido explosiva. Uma religião que utiliza chás alucinógenos para elevar as almas a Deus, com certeza não pode ser praticada por pessoas com pré desvio para as drogas, como foi o caso do perturbado assassino de Glauco.
E falando em chá, vamos voltar à cafeteira! Lá estava eu, divagando sobre as justiças e injustiças do mundo, tentando prestar atenção na audiência. A juíza pergunta: O que você quer, então? “Danos morais. Me senti humilhado”, alega. Ah, então você quer enriquecer as custas de uma cafeteira? Tem dó. Vai tomar um chá de Santo Daime!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Big Bundas Brasil

E já que o ano só começa mesmo depois do carnaval, vamos a ele: No ano em que o Corinthians completa 100 anos e Brasília 50, duas escolas do grupo especial de São Paulo e do Rio homenagearam ambos em seus desfiles. Enquanto a torcida paulistana gerou confusão na apuração do resultado, os escândalos que sempre cercaram a capital federal foram convenientemente esquecidos no enredo, que ficou por conta de falar da arquitetura, origem e miscigenação de Brasília – não por acaso, o Governo do Distrito Federal patrocinou a escola que o homenageava.
Ah, sim... E por falar nisso, o Governador Arruda foi preso (em uma sela mais que especial, diga-se de passagem). Mas vamos levar em consideração que “nunca antes na história desse País”, como diria nosso Presidente, um político foi tão severamente punido: Preso, sem partido, e agora sem mandato. O engraçado foi que enquanto os comparsas de Arruda foram numerosamente se afastando para não queimarem seus filmes, ainda há quem saia nas ruas em prol de um “volta, Arruda”. Seria difícil entender porque alguns brasilenses parecem insatisfeitos com a saída do Governador, não fosse pelo fato de que, enfim, muitas das obras que antes habitavam apenas nos sonhos de Juscelino só agora estejam sendo realizadas. É o famoso “rouba, mas faz” que manteve e mantém Paulo Maluf até hoje no poder.
Mas enfim, com ou sem Arruda, Madonna ou Beyoncé, o Brasil segue em frente, e todos os assuntos saem de pauta quando finalmente chega o carnaval. Esse, diga-se de passagem, se consagrou como o grande evento comercial que vem se tornando – nunca tantas celebridades, pseudo-artistas e “mulheres frutas” desfilaram na avenida. Enquanto isso, as comunidades e suas verdadeiras raízes vão sendo deixadas de lado. O carnaval deixou de ser uma paixão e se tornou uma fonte de lucro, ostentação e especulações em torno dos resultados. Outra paixão brasileira seguindo o mesmo caminho do futebol...
E falando em esporte, quem andou acompanhando a cobertura dos Jogos Olímpicos de Inverno está testemunhando a pior cobertura de eventos esportivos dos últimos anos. Isso porque, em plena era de Globalização e imediatismo, a Rede Record, que comprou com exclusividade a cobertura dos Jogos, muitas vezes exibe no momento das competições a programação da Igreja ligada à mesma, e depois, quando os resultados já foram divulgados, exibe o evento gravado.
Mas afinal, quem quer saber de olimpíadas de inverno? O Carnaval já acabou, mas ainda é verão. Todos a postos, em frente à televisão assistindo e se deliciando com a degradação do ser humano: O Big Brother Brasil 10 está no ar, com ainda mais siliconadas, saradas, belas e coloridos. Todos querendo a mesma coisa: Um milhão e meio? Que nada! Querem quantos minutos de fama uma top less “acidental” ou um barraco gratuito possam proporcionar. Ok, não sejamos injustos: Esse ano contamos até com uma inovadora tribo dos Cabeças! Diga-se de passagem, que somente no BBB uma celebridade do twitter se encaixa nesse estereótipo.
Reflexo da realidade ou não, a verdade é que no Big Brother todos são hamsters em uma gaiolinha, onde o Homo Sappiens existe em escassez e em condições hostis e desfavoráveis. Quer dizer, parando para pensar agora, essa é uma espécie já extinta do “reality” show, já que as tais cabeças foram eliminadas uma a uma, até que a tribo fosse totalmente dizimada. Mas afinal, é Brasil, e estamos falando de preferência nacional, que definitivamente não parece ser por essa parte do corpo...

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Pontos de Vista

Se tem uma coisa que a Física me ensinou e continuo levando para a vida, é que tudo é relativo. Me lembro com perfeição de um professor exemplificando: Se você está dentro de um ônibus, sentado, você está parado; mas se está de fora, olhando alguém sentado no ônibus, essa pessoa, para você, está em movimento. É tudo uma questão de ponto de vista.
É relativo, por exemplo, como uma cassação de um prefeito de uma cidade da importância de São Paulo possa ser conveniente – ou não. O DEM atravessa uma maré negra na política (ou é a política que está atravessando a tal maré?), bem, não vamos divagar na questão do relativismo; a questão é que na Política sempre existirá a Situação e a Oposição, e para essa segunda, até mesmo dos grandes escândalos se tira proveito. O PT que o diga... Prova que a ideia de que os políticos, teoricamente, visam pelo bem público e não pelo bem próprio, também é muito relativa...
Até mesmo a Loteria, baseada em números e em precisão, não é das mais confiáveis. Imagine você, ganhar um prêmio e não poder retirá-lo, pois sua aposta não foi registrada? Outra coisa que aprendi é que toda história possui três versões: a do lado A, a do lado B, e a certa. Quem então poderia se responsabilizar por um jogo não registrado? Nesse caso até que não é tão relativo assim – via de regra, outra coisa que a vida (e a física) me ensinaram, é que a corda tende a arrebentar sempre de um mesmo lado.
Mas as vezes a “Lei de Murphy” (aquela, que não estudamos na física mas experimentamos na vida) que muitas vezes é implacável, nos mostra que até mesmo não ser sorteado na loteria da vida pode ter os seus prós. Ok, talvez você não seja rica, nem tão sortuda e muito menos esteja em forma. Então a TV e todas aquelas roupas que não cabem em você e que você nem poderia comprar mesmo porque são mínimas, porém caríssimas, gritam e repetem quão desafortunada você é. E aí eu venho com o relativismo de Einstein e rebato que sim: as gordinhas são mais felizes!
E se o maior prêmio que a loteria da vida pode proporcionar é a própria vida, digo mais: as gordinhas são mais sortudas. A norte-americana Samantha Frazier, aquela “salva por seus pneuzinhos”, que o diga. Isso porque, após levar um tiro acidentalmente, os médicos que a atenderam relataram que a mulher foi salva por sua generosa camada adiposa, que a protegeu da bala, evitando que a mesma atingisse órgãos vitais. Samantha, que estava em dieta para emagrecer, declarou que mudou de ideia e não quer se ver livre de seus atributos – afinal, seus pneuzinhos foram, com o perdão do trocadilho, uma mão na roda.
Concorda comigo que a “boa” forma também pode ser relativa? Eu, particularmente, mudo meus conceitos diariamente, e essa foi uma daquelas notícias que li e mudaram minha vida (naquele minuto, pelo menos). Somos mesmo metamorfoses ambulantes, e na era midiática essas metamorfoses acontecem na velocidade da luz (ou da internet). Aproveito então para compartilhar essa minha pequena transformação e discorro sobre meu ponto de vista, enquanto ele ainda é o mesmo. Afinal, eu não sou estática. Mas chega de falar de física - e de físico - por hoje.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Extra! Extra! Extra!

Ano novo, problemas velhos. 2010 começou mostrando a que veio: desastres naturais em pleno reveillon, revelando o retrato de um País que prefere remediar a prevenir: em 2009, o Governo Federal gastou quase 10 vezes mais em reparos aos danos causados por enchentes e deslizamentos de terra do que em medidas de prevenção de desastres e preparação para a chegada das chuvas.

A maior prova de que o principal desastre é a falta de recursos e desenvolvimento é o último terremoto ocorrido no Haiti. O país, que é o mais pobre das Américas, foi devastado e sofreu conseqüências das quais um país de primeiro mundo como o Japão, que costumeiramente enfrenta fortes tremores de terra, está livre, devido ao alto investimento em tecnologias capazes de minimizar os efeitos da fúria da natureza – que está cada vez mais implacável.

Vida nova em 2010? Algumas coisas definitivamente não mudam. Em 2009, os brasileiros trabalharam cinco dos 12 meses para pagar impostos. E para onde vai tanto dinheiro? Para perucas dos Senhores senadores! Isso por que, ao contrário da promessa feita para 2009 de reduzir os gastos com horas extras no Senado, os números só aumentaram (R$ 3,7 milhões a mais do que em 2008). O que então esperar para 2010? Um ano que já começou com um episódio que seria trágico se não fosse cômico, com o pagamento de R$6,2 milhões em horas extras para os funcionários do Senado em janeiro, mês em que a Casa está em recesso.

Extra, extra... Extra-ordinário, eu diria. Só no Brasil mesmo para funcionários (públicos, óbvio) receberem hora extra quando não houve sequer uma sessão ou reunião. Não bastasse o fato de Senadores folgarem 280 dias do ano. Isso mesmo! Somados os recessos e férias totalizam 85 dias. Dias esses que os senhores senadores deixam de trabalhar, mas pelo visto não deixam de receber o já generoso salário e ainda o beneficio de hora extra. E por falar em hora extra do Senado, a mesma recebeu reajuste de 111% no teto. Isso mesmo, cento e onze por cento. E você que se contente com o aumento de 9% no salário mais que mínimo.

Um dos países que mais paga impostos no Mundo é também um dos que menos dispõem de benefícios para os contribuintes. Com os nossos governantes e parlamentares, no entanto, somos generosos (vide auxílio telefone, correios, e transporte aéreo). E você que se contente com a incorporação de novos procedimentos no plano de saúde. E aguarde o reajuste... Ou você acha que não vai pagar mais por isso? No Brasil, só quem não banca com suas despesas, são os políticos. Essas despesas, aliás, também estão na sua conta. Mas venham a nós os políticos! É deles o reino das contas públicas e do paraíso fiscal. Eles são todos filhos do Brasil. E alguns estão em cartaz no cinema mais próximo nesse verão...

E por falar em filhos do Brasil e da Revolução, parece que tem gente com saudade da Ditadura e quer controlar a Imprensa (isso porque o novo Plano Nacional de Direitos Humanos prevê o controle da linha editorial dos veículos sob pena de quebra de concessão). De que direito estamos falando? Só se for o direito do silêncio. Manter a Imprensa a rédeas curtas é retrocesso, e 2010 é o ano dos extras! Já começamos com chuva extra (e consequentemente desastres extras), calor extra, propaganda política em forma de filme extra, censura extra e, para os senhores senadores, pagamento de hora extra-oficial e extra-generosa. E é só o começo! Esse ano ainda tem Copa do Mundo e Eleição, e eu já estou ensaiando o grito para extravasar as peculiaridades de ser brasileiro: Extra, extra... Quer dizer, Hexa, hexa, hexa!