terça-feira, 30 de março de 2010

O que é isso, Companheiro?

É fato que em meio a tantas contradições e “mudanças de opinião”, aparentemente a única constante nos discursos de Lula são as metáforas: retrato de um Brasil cômico, e trágico. A última do Presidente foi a infeliz comparação de presos políticos de Cuba com presos comuns. “Eu penso que a greve de fome não pode ser usada como um pretexto de direitos humanos para libertar as pessoas. Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrassem em greve de fome e pedissem liberdade”. Ora, Lula... Se conhecesse os direitos humanos saberia que em sua Declaração Universal consta que governos como o de Cuba infringem os direitos humanos em vários pontos.

Lavar as mãos diante de pessoas que foram presas pelo simples fato de não concordar com um regime opressor é no mínimo estranho, ainda mais vindo de alguém com a biografia de Lula. Ao comparar um preso político com um preso comum, Lula enquadra a si próprio e sua candidata a sucessão, Dilma Rousseff, no mesmo saco que os presos cubanos por ele condenados. Isso porque, tanto o presidente como a ministra, foram presos políticos, e Dilma, inclusive, foi intimamente ligada à luta armada.

É fato também que o Lula “Paz e Amor” eleito pelo marketeiro Duda Mendonça, não é o mesmo que o Lula sindicalista, oposição enérgica e com ânsias de mudança. O Presidente se orgulha disso, e se utilizou da velho ditado chileno que diz que o homem que aos 20 anos não é socialista, não tem coração, e o que continua socialista aos 40, não tem cérebro. O Brasil elegeu o coração de Lula, mas levou de brinde seu cérebro cheio de metáforas e pérolas em forma de piadas de turco, acreditem, no Oriente Médio.

Só quero deixar claro que não sou anti-Lula. Sou apenas a favor da fidelidade não só partidária, como ideológica. Admirava Lula enquanto coerente com suas convicções, mesmo que radicais, e acho que as ideias devem mesmo passar por metamorfose e amadurecimento, porém não uma total desvirtuação. Recorro então a mais uma frase-chavão: Se quer conhecer um homem, dê a ele o poder. Eis então o novo presidente Lula: Capitalista, metafórico, inconveniente e contraditor de suas próprias origens e ideais... O que é isso, companheiro? "Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás!”

quinta-feira, 25 de março de 2010

Abaixo o Sensacionalismo!

O que vou escrever aqui é um desabafo. Pode até soar meio insensível, e na contra-mão de tudo que vem sendo dito, mas digo com a tranqüilidade de quem não quer ser compreendido, mas como qualquer um que escolhe ser um “comunicador”, quer se expressar.
Não tem como falar dessa semana sem falar do tão esperado julgamento do Casal Nardoni, dois anos depois do crime que chocou o País – julgamento esse que acontece agora, quando a opinião pública já condenou os dois antes mesmo da própria Justiça. Mas também não tem como não se perguntar porque o assassinato da menina Isabella ganhou tanta repercussão.
Todos os dias tantas Isabellas são torturadas, molestadas e mortas em todo o Brasil, mas apenas a menina branca e bonita, paulista de classe média estampa camisetas de milhares de protestantes, comovidos, que se declaram “um pouco órfãos de Isabella”.
A reconstituição do crime, a maquete de 30 mil reais, o circo em que se transformou o julgamento: Tudo isso é lamentável, ainda mais quando se fala de Brasil, um país com tantas injustiças, tanta desigualdade, tanta corrupção e tanto sensacionalismo.
A justiça tem sim que ser feita. Nada mais que justiça para Isabella e também para tantas outras crianças vítimas de maus tratos, vítimas de fome, de abandono. Me lembro do caso de um menino chamado Pedro, que aconteceu cerca de 1 mês após a morte de Isabella. O menino, de família pobre e suburbana, foi torturado durante meses pela mãe e pelo padrasto, o que acarretou sua morte. Mas quem se lembra, quem se importa?
Condenar Alexandre e Anna Jatobá não será o fim da violência contra crianças no País – será apenas o retrato do poder que a Imprensa, o Quarto Poder, pode exercer sobre o Judiciário, pressionando a eficácia de laudos, de perícias e a efetividade da Justiça em si.
Termino esse meu desabafo lembrando que a Imprensa elege presidentes, derruba presidentes, condena inocentes e absolve culpados. Por que não então a opinião pública e a Imprensa não estendem suas mãos generosas (e poderosas) também para essas Isabellas, Joãos Hélios, Pedros e tantas outras crianças que tem todos os dias suas infâncias roubadas e seus sorrisos calados? Bem, mas esse é só um desabafo de mais uma pessoa revoltada com o Sistema e com os caminhos que segue a profissão que ela escolheu.

quinta-feira, 18 de março de 2010

A Cafeteira

Essa semana assisti uma curiosa audiência sobre uma tal cafeteira. Eu era uma intrusa na sala de audiência, mera espectadora de mais um desses casos sem solução. Fiquei atenta, observando o desenrolar daquela história que nada mudaria minha vida. Um homem havia comprado uma cafeteira em um supermercado. Após constatar defeito, levou a tal cafeteira de volta na loja. Alguns dias depois, não conseguiu outro produto igual.
Versão daqui, versão de lá. A cafeteira havia custado ao consumidor 40 reais, mas o mesmo não aceitou um acordo proposto pelo supermercado de 200 reais. E enquanto isso a cafeteira gerava mais gastos ao sistema judiciário, que já é lento e sobrecarregado. As pessoas perderam afinal a capacidade de conversar? Precisam de uma juíza para lhes dizer o que fazer? Quantos outros casos permaneceriam sem solução, em filas interminaveis da "Justiça" brasileira?
Enquanto assistia à audiencia, pensei na morte do cartunista Glauco Villas Boas e seu filho: num primeiro momento, duas vítimas da violência urbana – a mesma que Glauco tanto criticava em seus quadrinhos. Mas foi mais do que isso, mais do que mera violência. Foram assassinados por um jovem desequilibrado, seguidor da igreja fundada por Glauco, adepta do chá de Santo Daime, o Ayahuasca.
A audiência corria, e me lembrei de uma frase que vi no Twitter à respeito da morte de Glauco: “A direita culpará as drogas, e a esquerda, a religião”. O certo é que, provavelmente, a combinação de ambas é que havia sido explosiva. Uma religião que utiliza chás alucinógenos para elevar as almas a Deus, com certeza não pode ser praticada por pessoas com pré desvio para as drogas, como foi o caso do perturbado assassino de Glauco.
E falando em chá, vamos voltar à cafeteira! Lá estava eu, divagando sobre as justiças e injustiças do mundo, tentando prestar atenção na audiência. A juíza pergunta: O que você quer, então? “Danos morais. Me senti humilhado”, alega. Ah, então você quer enriquecer as custas de uma cafeteira? Tem dó. Vai tomar um chá de Santo Daime!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Big Bundas Brasil

E já que o ano só começa mesmo depois do carnaval, vamos a ele: No ano em que o Corinthians completa 100 anos e Brasília 50, duas escolas do grupo especial de São Paulo e do Rio homenagearam ambos em seus desfiles. Enquanto a torcida paulistana gerou confusão na apuração do resultado, os escândalos que sempre cercaram a capital federal foram convenientemente esquecidos no enredo, que ficou por conta de falar da arquitetura, origem e miscigenação de Brasília – não por acaso, o Governo do Distrito Federal patrocinou a escola que o homenageava.
Ah, sim... E por falar nisso, o Governador Arruda foi preso (em uma sela mais que especial, diga-se de passagem). Mas vamos levar em consideração que “nunca antes na história desse País”, como diria nosso Presidente, um político foi tão severamente punido: Preso, sem partido, e agora sem mandato. O engraçado foi que enquanto os comparsas de Arruda foram numerosamente se afastando para não queimarem seus filmes, ainda há quem saia nas ruas em prol de um “volta, Arruda”. Seria difícil entender porque alguns brasilenses parecem insatisfeitos com a saída do Governador, não fosse pelo fato de que, enfim, muitas das obras que antes habitavam apenas nos sonhos de Juscelino só agora estejam sendo realizadas. É o famoso “rouba, mas faz” que manteve e mantém Paulo Maluf até hoje no poder.
Mas enfim, com ou sem Arruda, Madonna ou Beyoncé, o Brasil segue em frente, e todos os assuntos saem de pauta quando finalmente chega o carnaval. Esse, diga-se de passagem, se consagrou como o grande evento comercial que vem se tornando – nunca tantas celebridades, pseudo-artistas e “mulheres frutas” desfilaram na avenida. Enquanto isso, as comunidades e suas verdadeiras raízes vão sendo deixadas de lado. O carnaval deixou de ser uma paixão e se tornou uma fonte de lucro, ostentação e especulações em torno dos resultados. Outra paixão brasileira seguindo o mesmo caminho do futebol...
E falando em esporte, quem andou acompanhando a cobertura dos Jogos Olímpicos de Inverno está testemunhando a pior cobertura de eventos esportivos dos últimos anos. Isso porque, em plena era de Globalização e imediatismo, a Rede Record, que comprou com exclusividade a cobertura dos Jogos, muitas vezes exibe no momento das competições a programação da Igreja ligada à mesma, e depois, quando os resultados já foram divulgados, exibe o evento gravado.
Mas afinal, quem quer saber de olimpíadas de inverno? O Carnaval já acabou, mas ainda é verão. Todos a postos, em frente à televisão assistindo e se deliciando com a degradação do ser humano: O Big Brother Brasil 10 está no ar, com ainda mais siliconadas, saradas, belas e coloridos. Todos querendo a mesma coisa: Um milhão e meio? Que nada! Querem quantos minutos de fama uma top less “acidental” ou um barraco gratuito possam proporcionar. Ok, não sejamos injustos: Esse ano contamos até com uma inovadora tribo dos Cabeças! Diga-se de passagem, que somente no BBB uma celebridade do twitter se encaixa nesse estereótipo.
Reflexo da realidade ou não, a verdade é que no Big Brother todos são hamsters em uma gaiolinha, onde o Homo Sappiens existe em escassez e em condições hostis e desfavoráveis. Quer dizer, parando para pensar agora, essa é uma espécie já extinta do “reality” show, já que as tais cabeças foram eliminadas uma a uma, até que a tribo fosse totalmente dizimada. Mas afinal, é Brasil, e estamos falando de preferência nacional, que definitivamente não parece ser por essa parte do corpo...