quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Admirável - e inevitável - mundo novo

Mudanças. Ultimamente ando respirando mudanças. Ciclicamente nossas vidas se vêem diante de encruzilhadas e silenciosas – e dolorosas – revoluções. Nesse momento em que me mudo de casa, mudo de estudante para jornalista, de sonhadora para realista e mudo também de ideia, vejo meu país dando boas vindas ao ano de 2011, que trará consigo, pela primeira vez, uma presidente mulher.

Das mudanças, a menor. Dilma Roussef significa continuidade – ou pelo menos é nisso que os mais de 55 milhões de brasileiros se apegaram ao depositar seu voto em Dilma. Mas abaixada a poeira das eleições onde tudo eram dúvidas, a certeza de finalmente conhecer a cara do Brasil dos próximos 4 anos nos mostra que Dilma é muito mais do que mera continuidade: é mudança – e, esperamos, para melhor.

Quem não mudou muito foi o Enem. Um ano depois do escândalo das provas roubadas, o exame volta a perder credibilidade e pode ser até anulado, depois da impressão errada de algumas provas que prejudicou os alunos. E não é só o Enem que anda inspirando desconfiança e insegurança: o mesmo vem acontecendo com as empresas das Organizações Silvio Santos, que após fraude no Banco Panamericano, colocou todas as empresas do homem do Baú na corda-bamba – inclusive o SBT.

E falando em fraude, quem surpreendeu a todos com a velocidade de transformação foi Tiririca: de palhaço para deputado eleito com mais votos do Brasil e de suspeito de falsificar declaração de escolaridade a comprovadamente alfabetizado, aparentemente poderá tomar posse e finalmente nos contar o que, afinal, faz um deputado.

Se pior do que está fica não sabemos, mas a verdade é que ano que vem vai ser tudo novo: os senhores senadores, os senhores deputados e também os senhores ministros. Se até outro dia tudo era uma incógnita sobre os novos rumos do País, agora tudo não passa de especulação, de reticências. E expectativa – hora de formular as resoluções de ano novo para aproveitar o clima de mudança. Hora de deixar o saudosismo de lado e abrir os braços para o novo.

Dilma Roussef não é mais uma candidata de 55 milhões de eleitores, é a presidenta de 190 milhões de brasileiros. E que seja feita a vontade de Deus, que fala por meio da voz do povo. É a democracia, é a maioria. Enquanto muitos clamavam pelo terceiro turno de Lula (o filho do Brasil e novo pai dos pobres), a mudança era iminente – e agora é real. O que nos resta, enquanto agente passivos de algumas mudanças, é estufar o peito e olhar não só para as dores, mas também para as delícias das pequenas e das grandes mudanças: Terra nova à vista!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Para baixo, e avante!

Serra caiu. Tentando conquistar os eleitores de Lula, herança natural de Dilma Roussef, Serra perdeu os de FHC, que não viram nele o reconhecimento por algumas ondas que começaram no governo do PSDB, e nas quais, mais tarde, Lula surfou triunfal. Se Serra não falar isso, quem vai falar?

A Casa Civil também caiu. Embaixo dela, ficaram os escombros da reputação do que deveria servir como o braço direito do Governo em nome dos interesses públicos e tem servido a interesses um tanto quanto particulares, tendo se tornado um verdadeiro antro de nepotismo e tráfico de influência.

Mas a onda de escândalos que culminou na demissão de Erenice Guerra chegou até a candidatura de Dilma em forma de marolinha. A ex-ministra pelo visto aprendeu muito bem com seu padrinho Lula a surfar – no melhor estilo “eu não sei de nada, vamos investigar e punir”. Dilma, seguindo o caminho contrário dessa tendência de cair, só vem subindo rumo a uma façanha que nem seu popular antecessor conseguiu: vitória no primeiro turno.

A verdade é que o povo não quer saber de Casa Civil nenhuma. Quer saber é de “Minha Casa, Minha Vida”. Não querem saber se quem inventou o Bolsa Escola foi FHC, e Lula só mudou o nome dos bois. O povo quer é receber seu pão – e de quebra, o circo. E foi pelas mãos de Lula que o pão veio, não importa quem o fermentou.

E falando em circo, quem também caiu foi o Morumbi, tendo se tornado inapto para sediar jogos da Copa do Mundo. Mas aí vem Lula, com seu jeitinho brasileiro e traz a solução: construir um estádio para o Corinthians. Matar dois coelhos em uma jogada de mestre só, angariando assim votos do seu eleitorado mais resistente: São Paulo. Enfim, entendam como quiserem. A verdade é que quem um dia chamou esse homem de burro, deve baixar a orelha agora. Lula não deixou a peteca cair e vai fazer sua sucessora, contrariando todas as expectativas.

Por outro lado, o que agora está em voga é aparecer na TV se apresentando como responsável pelo Ficha Limpa. A velha história de mostrar o pau depois que a cobra já está morta. Um projeto que nasceu do clamor popular e chegou até onde chegou por méritos da população e da imprensa, e ao qual os senhores deputados só acrescentaram benefícios em causa própria, e que agora estampam santinhos que entopem nossos bueiros com o nome do projeto. Para as próximas eleições, inclusive, meu projeto é pelas ruas limpas – não só as ruas como as casas, inclusive a Civil.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

“E o voto vai para...”

Desliguem a TV, economizem os programas de humor e os sites de piadas. As campanhas eleitorais estão a todo vapor com o mais peculiar (e negro) do humor. Afinal, é da cara do eleitor que eles dão risada, e como se não bastasse os políticos serem a própria piada, agora querem calar a voz dos humoristas. Estamos andando no caminho contrário e regredindo, sendo censurados e lembrados sobre quem pode rir de quem. A graça está nas massas escolhendo seus votos baseada em mentiras deslavadas e números distorcidos.

Por trás dos debates estão marketeiros – muito bem pagos – que fazem jogos de frases de efeito e manipulação, que usam os rostos maquiados e sorridentes que nós vemos como fantoches para dizer o que os eleitores querem ouvir. Mas não se preocupe: se eleitos, eles continuarão meros fantoches e porta-vozes de um emaranhado de coronelismos e corrupção (de dinheiro e de caráter).

Partidos já não existem mais. Nem democracia. Ou dedicar a um candidato 10 minutos no horário na televisão e 30 segundos para outro é democrático? O eleitor tem a mesma oportunidade de conhecer cada candidato para se decidir pelo voto? E as pesquisas? Sempre me pergunto quem influencia quem – as pesquisas são reflexo da vontade da população ou a vontade da população é reflexo das pesquisas?

Sem falar que só aparece quem tem dinheiro. E só tem dinheiro quem tem rabo preso com empresários e figurões acostumados a mamar nas tetas do generoso Governo, só não tão generoso com seus contribuintes e seus marginais, que se contentam com uma bolsa-miséria para calar a fome e a boca, e garantir o voto nas próximas eleições.

Mas se você estiver revoltado e insatisfeito com o cenário político, econômico e social atual, ligue a TV ou o rádio, e veja um Brasil com crianças sorridentes, candidatos nobres e engajados e a solução para todos seus problemas. São todos tão bonzinhos e simpáticos que dá vontade em votar em todos! Pena que não dá..

E se estiver cansado dos figurões, vote nos “figuras”. Aqueles que eleição após eleição, surgem com seus jingles cômicos e slogans apelativos. Eles só querem chamar a atenção e, de quebra, conquistar votos de protesto. Pelo menos eles fazem um humor mais escachado, despretensioso e honesto – eles não fingem que estão falando sério, não fazem de conta que se importam com você, e não apenas com seu voto. E, falando nele, não tenha receio de usá-lo para o mal. Essa é ”minha” dica: pior do que está, não fica!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

CALA BOCA UFANISMO

As candidaturas foram oficializadas, dando a largada à corrida presidencial – oficialmente, claro. Mas, como não poderia deixar de ser, o assunto é Copa do Mundo. Afinal, de quatro em quatro anos, palmeirenses, corinthianos, cruzeirenses, flamenguistas, ricos, pobres, e apaixonados ou não pelo futebol vestem a mesma camisa: a do patriotismo. De quatro em quatro anos dá orgulho ser brasileiro, o país para. Jogo do Brasil é feriado, é carnaval.

Mas enquanto não chegamos a fase “mata-mata”, as atenções ficam em torno da roupa de Dunga, das “vuvuzelas”, da Jabulani, de quem ficou fora da Copa... E de Galvão Bueno. Sim! O simpático locutor esportivo brasileiro tão popular quanto polêmico. Pela primeira vez, uma Copa do Mundo é coberta pelo Twitter, onde o famoso “CALA BOCA GALVÃO!” segue inabalável nos “Trending Topics” desde o show de abertura do mundial. Ou seja, é o assunto mais comentado do Twitter.

Deu o que falar. O mundo quis saber o que afinal era a expressão tão twittada pelos brasileiros. Muitas teorias surgiram: novo single da Lady Gaga? Campanha para salvar os galvões, pássaros em extinção no Brasil? A proporção que o viral ganhou na web foi tamanha que até os noticiários internacionais publicaram matérias a respeito. Sem falar do deleite dos sites de humor, onde o assunto deu mais pano para manga do que todos poderiam imaginar.

O fato é que, enquanto alguns atribuem essa visibilidade ao “poder do Twitter”, eu insisto em dizer que quem tem poder são as massas, que quando querem se fazem ser ouvidas e atendidas. Aconteceu com o projeto de lei Ficha Limpa, que nasceu no clamor popular e ganhou os plenários para, enfim, ser votada, aprovada, sancionada e, claro, devidamente modificada. Bateu recordes de agilidade e já valerá para as eleições desse ano. É a prova de que, quando mobilizadas para o bem, a população, tal qual a imprensa, o quarto poder, possuem inquestionável poder.

Por que não usar, então, as ferramentas que possuímos nas mãos para causas mais nobres, ou no mínimo menos perdidas? O Galvão Bueno não vai calar a boca. O Faustão, o Gugu, o Sílvio Santos, e tantos outros não calaram até hoje. Esse tipo de polêmica só fomenta a popularidade dessas figuras controversas.

E falando em eleições, Twitter e Copa do Mundo, há um lugar comum em que esses três elementos se encontram: nas páginas dos presidenciáveis na ferramenta dos 140 caracteres. Lá, as discussões esportivas invadem também a esfera política, com os candidatos tentando criar empatia com os torcedores. E, enquanto Serra se aproveita do slogan ambíguo “O Brasil pode mais”, Lula alega, categoricamente, que Dilma irá preencher um vazio deixado por ele nas urnas nessas eleições.

O Brasil pode mais. A frase é familiar, e causa na população a sensação de poder. E o povo realmente pode mais. Pode deixar de lado o ufanismo – aquele sentimento de auto-vangloriação responsável pelo famoso (e traiçoeiro) salto alto – característico da época de Copa e dar lugar ao genuíno patriotismo, aquele que nos dá forças para limpar as fichas de nossos candidatos e que não vai embora com a primeira derrota da Seleção.