E ao povo, pão e circo. Funcionou com o bolsa esmola, que elevou a popularidade de Lula a níveis beirando patética unanimidade. Retrato de um país que não tem o que comer, nem a cultura do trabalho e da priorização do estudo. Agora Lula dá sua tacada final aos 43 do segundo tempo, de olho na sucessão: apóia a candidatura do Rio de Janeiro como cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2016 – e vence.
Mostramos ao mundo como somos campeões mundiais do “oba-oba” (se houver medalha nessa modalidade, o ouro é nosso). Um evento desse porte deveria demandar uma cidade estruturada, e não o caos que se tornou o Rio de Janeiro. Um verdadeiro cenário de constante guerra entre facções, polícia e ladrão, polícia e polícia e ladrão e ladrão. Tudo isso chefiado e consentido por quem deveria prezar pelo cidadão que está preso em casa enquanto o crime rola solto do lado de fora.
Mas para isso basta fazer um acordo. O clássico: fazer vista grossa por alguns meses para o tráfico (que é quem de fato manda e desmanda, dá toque de recolher e sentença de morte) dar uma trégua enquanto o Rio de Janeiro brinca de Cidade Maravilhosa. E o povo ainda aplaude, sai de verde e amarelo e repete o coro de que o evento trará benefícios para a cidade e para o País. Já não bastasse a Copa de 2014.
E lá se vão cinco bilhões de reais. Dinheiro esse que se investido em educação, por exemplo, traria resultados que colheríamos por muitas gerações: um país de gente educada, culta e com senso crítico. Mas será mesmo que isso é conveniente? Dá ao povo o pão e circo mesmo, que funcionou até agora. É melhor pra nós, e eles aplaudem e agradecem. “Quero o Lula mais quatro anos!” Pra que investir no esporte através de iniciativas, quadras nas escolas e capacitação de professores? É melhor construir estádios monumentais, que não vão beneficiar a criança da periferia, mas vão impressionar muito mais.
Não adianta fazer barba cabelo e bigode do Rio, nem do Brasil. Enquanto não mudarmos a estrutura não estaremos prontos para receber eventos do porte da Copa do Mundo de Futebol ou das Olimpíadas. Mas mesmo assim o Abacaxi é nosso, e vamos descascar à lá “jeitinho brasileiro”.
Yes, we can! – discursou o então candidato à presidência dos Estados Unidos, Barack Obama. Yes, we créu– adaptou um brasileiro espirituoso, que foi entoado por uma modesta multidão que enxerga o óbvio: somos o país do créu achando que estamos podendo...
publicado na Revista Glass de Outubro
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