quinta-feira, 18 de março de 2010

A Cafeteira

Essa semana assisti uma curiosa audiência sobre uma tal cafeteira. Eu era uma intrusa na sala de audiência, mera espectadora de mais um desses casos sem solução. Fiquei atenta, observando o desenrolar daquela história que nada mudaria minha vida. Um homem havia comprado uma cafeteira em um supermercado. Após constatar defeito, levou a tal cafeteira de volta na loja. Alguns dias depois, não conseguiu outro produto igual.
Versão daqui, versão de lá. A cafeteira havia custado ao consumidor 40 reais, mas o mesmo não aceitou um acordo proposto pelo supermercado de 200 reais. E enquanto isso a cafeteira gerava mais gastos ao sistema judiciário, que já é lento e sobrecarregado. As pessoas perderam afinal a capacidade de conversar? Precisam de uma juíza para lhes dizer o que fazer? Quantos outros casos permaneceriam sem solução, em filas interminaveis da "Justiça" brasileira?
Enquanto assistia à audiencia, pensei na morte do cartunista Glauco Villas Boas e seu filho: num primeiro momento, duas vítimas da violência urbana – a mesma que Glauco tanto criticava em seus quadrinhos. Mas foi mais do que isso, mais do que mera violência. Foram assassinados por um jovem desequilibrado, seguidor da igreja fundada por Glauco, adepta do chá de Santo Daime, o Ayahuasca.
A audiência corria, e me lembrei de uma frase que vi no Twitter à respeito da morte de Glauco: “A direita culpará as drogas, e a esquerda, a religião”. O certo é que, provavelmente, a combinação de ambas é que havia sido explosiva. Uma religião que utiliza chás alucinógenos para elevar as almas a Deus, com certeza não pode ser praticada por pessoas com pré desvio para as drogas, como foi o caso do perturbado assassino de Glauco.
E falando em chá, vamos voltar à cafeteira! Lá estava eu, divagando sobre as justiças e injustiças do mundo, tentando prestar atenção na audiência. A juíza pergunta: O que você quer, então? “Danos morais. Me senti humilhado”, alega. Ah, então você quer enriquecer as custas de uma cafeteira? Tem dó. Vai tomar um chá de Santo Daime!

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